quinta-feira

Sobre cortes e cores

As cores mudaram a sorte dos sonhos que nos compartilham
Mudaram os sons que acompanham os nossos suspiros de acorde
A casa mudou numa imagem de duplo improvável
O leve mudou num sorriso de peso palpável

As luzes cortaram as luzes em luzes que cortam
O espectro que era agudo
Ficou suportável
A dor que perméia o centro da fala
Surgiu de repente
Por trás de um sorriso amável

O vento que sempre moveu as cortinas em cima da cama
Ficou violento e frio
Como agulha no osso

A sua palavra
Com peso de pedra arrancada do piso da rua
esmaga o peito
numa trajetória sóbria e infalível

Os cortes nas mãos
suas pernas e mãos responsáveis
O cerco eminente
Das forcas
Dos focos
E forças
frias.

Apesar da existência plena e factível
Os ritos de amor que ficam pra trás e agora parecem impossíveis
a existência plena se mostra terrível
à sombra do seco, do crível

O vulto do corpo que se configura em cheiro e espetos de carne
encarniça os toques
os faz temíveis

A sombra da sombra de uma palavra gigante e sensível
Penetra
e rasga
o fígado
os testículos

E torna ácidas as substâncias e óleos
que eram substâncias e óleos
e suas salivas (que prometiam)
crias

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