Às seis da manhã descemos eu e ele as escadas para a Lapa.
As ruas já estavam vazias e não tínhamos medo da polícia e os bêbados eram tão bêbados que nada poderia acontecer.
Infelizmente os depósitos já estavam fechados e as lojas ainda não haviam aberto. Então precisamos caminhar por muito tempo para encontrar um lugar que pudesse nos vender uma garrafa de rum e um cigarro.
Voltamos para o apartamento uma hora e meia depois e todos já tinham ido dormir, menos você.
E ele queria ir para casa. Queria dormir. Mas você queria ficar e ele não conseguiu fazer nada para evitar isso.
E ele ficou no sofá, falando. E nos ficamos bebendo, conversando.
E se ele não estivesse lá, eu teria arrancado as suas calças de couro. Teria descoberto a sua blusa para encostar a testa no seu umbigo. Teria arrancado o seu sutiã. Teria rasgado alguma coisa sua. Teria sido violentamente magnífico. Teria projetado um discurso, que num projeto de intenção agarraria seus cabelos e tomaria os seus dentes num movimento de contato brusco ainda que fosse tudo previsível.
Você pegava o copo e o cigarro.
Você acendia tudo, gesticulava.
E no fundo do seu movimento
eu conseguia sentir as fontes
de uma ação
perfeita
pautada pela intenção de descontentamento
buscando causas
para provocar um efeito
brusco
em tudo
em sua volta
e nele.
E quando eu conseguia olhar no fundo,
em alguns momentos sem contexto,
eu entendia que todo o movimento não enunciava intenções concretas,
não tinha eu e ele,
nesses momentos,
somente a fúria
em movimentos sem discernimento.
E apesar de muitos e plausíveis poréns,
a coisa toda me contagiava.
E justamente por me saber um invasor
me exaltava e seguia conversando.
Por que a fúria voltada para o outro
é magnífica enquanto acontecimento
ainda mais do ponto de vista
de quem,
em algum momento,
pode se transformar num para-raio
ou outro instrumento.
Quando isso acontece
é facil de entender
a lógica interna dos contratos
de Sacher-Masoch.
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