sexta-feira

Sobre situações típicas

Em russo armadura é LATY
quase lata
só que no plural

As latas como laty
afiguram se na mesa, casa, quintal
e justificam o embate
com a luz, o vento e o sol.

Justificam a vigília
quando o preto é tomado pelo azul
e seguram o corpo
quando tudo ao redor acena o capitular.

Difícil descrever o ambiente:
Cinzeiro cheio mas sem sentir o cheiro
Maços vazios, copos, um celular esquecido
rolo de papel higiénico
três copos pela metade deixados por quem não está lá
papéis avulsos
isqueiro
um computador
relegado ao instrumento
que sempre deveria ser
e a impermanência fragil
de quem já foi dormir
mas pode acordar a qualquer momento
e te surpreender
num estado que ninguém mais deveria ver.

E nesse interméio de situações quase reais
Os dedos vivem
vivem gestos combinados
que imaginamos sermos nos.
E esses gestos
numa configuração espontánea
gestos como configurações de coisas
denunciam o deserto por trás de cada um de nos
e o movimento forçado repleto de coragens e anseios
que nos concede direitos supremos
de sentir em si
como se fossemos
como se o ente configurado fosse eu.

E apesar da inexistência do problema
Há um fato.
Uma certeza que descarta o medo.
O que se considera firme perderá formato
Para ceder à forma externa
Será somente um fato
passado.

E esse emaranhado opaco
de ex-funções do olfato lírico
não passará de objeto
suado, a roncar,
um corpo
alguma coisa
uma ação passada

numa situação bem típica.

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