“Uma grande passion é privilégio de quem não tem nada que fazer.
É a única ocupação das classes ociosas de um
país. Não tenha medo.
Coisas deliciosas o aguardam. Isso é somente o começo.”
Oscar Wilde
“Retrato de Doryan Gray”
Ontem, ao sair de sua casa, quando
os dias geralmente são verdes e o vento traz lembranças do ontem, pensei ter
visto um vulto atravessar as paredes do estacionamento e ligar a ignição do
carro, disparando para o céu. O vulto dispersava energias voláteis e acabou
esbarrando em poste de luz, que soltou faíscas. As faíscas respingaram em
folhas secas, provocando um pequeno incêndio num formigueiro. As formigas
corriam por todos os lados levando os feridos para longe. Muitas ficavam contorcendo-se
de dor e agonia.
Então, lentamente, fui me afastando
daquele local para leste, com uma vaga impressão de já ter presenciado tal
fenômeno antes e com certo peso que, certamente, iria me acompanhar pelo resto
do dia.
Coisas muito estranhas acontecem
quando saio de sua casa.
Hoje quero falar sobre o ordinário e
suas múltiplas possibilidades. O cotidiano, que pode ser tanto uma maravilhosa
combinação de pipoca, coca-cola, cinema, carros, bubblegum, pósters da benetton
e compras num magnífico supermercado, quanto um cotidiano catarse de Proust,
Miller, DADA, Flúxus... E ainda, os dois num sínodo estonteante de Pop art metafísica
– escapando em direção à outras possíveis vãoguardas. Porém, hoje não estou
inclinado à política, e simplesmente contemplo a suave trajetória do avião
sobre a Baía de Guanabara. Um notável entardecer na Urca. Contemplando luzes
de Niterói além das águas.
Minha bicicleta encostada na mureta
correndo ao longo da rua, uma passarela beira mar, e simplesmente cigarro,
simplesmente caçando brisas.
Ouça a canção do vento. (Murakami)
Comprem nuvens rosas! (Parece Tzara,
mas não é)
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