segunda-feira

12 de março de 2008


Lo. P. chegou em casa. Seu terno estava sujo e a cartola amassada. Aconteceu na ferroviária. Aquele filho da puta escondeu-se embaixo de um vagão. Quando Lo P. agachou-se para amarrar os cadarços, viu, de relance, algo se movimentando e sentiu, logo em seguida, uma aguda dor no joelho – caindo na lama, desse modo.

O sujeito misterioso fugiu ou escapou. Por algum motivo escuso, tinha arrancado a cartola da cabeça do Lo. P. e, tendo percorrido com ela em mãos até a saída da estação, atirou o acessório ao solo, deu uns pulinhos em cima e dissolveu-se por completo na multidão da rua.

Lo. P. estava puto da vida.

Ele jogou a roupa suja no canto e, sem encontrar o roupão nem o pijama, (se fuder disse entre os dentes) de cuecas mesmo, sentou-se no sofá e ligou a TV.

O monitor azul transmitia o rosto dela. Cabelos esvoaçantes pela estática, como se um turbilhão de micropartículas atormentadas tivessem encontrado seu breve repouso nela. Dizia algo, mas isso não importava. O atrativo aqui era a imagem pura, com a qual poderia contar todos os dias.

Nunca fora de assistir TV. No entanto, certo dia, em algum hotel, aguardando um contato, voltou o olhar para a tela no canto do saguão e ficou paralisado. Era ela. Pela primeira vez.

Descobriu os horários do noticiário. Todas as noites livres passaram a ser dedicadas ao teleprograma. Para ser mais exato, à sua presença no teleprograma.

Naquele dia, no entanto, de cuecas no sofá, algo deu errado. Pode ter sido alguma falha no transmissor, pode ter sido o vento, tempestade a arrancar as antenas, enfim, a tela ficou negra.

Lo. P. lançou o copo cheio de cerveja no aparelho, xingou, mexeu na fiação. Tudo sem resultado. E eu posso dizer que terroristas não invadiram o estúdio de gravação do programa, não cortaram os pescoços dos operadores de vídeo, não mataram a apresentadora. Não – isso não aconteceu. Para ser franco, o problema foi uma queda de energia e a idade avançada do aparelho de TV. Todavia, pode-se dizer com certeza, que aquele, definitivamente, não era o dia de Lo. P.

2 comentários:

Anônimo disse...

Lo. P. poderia virar um personagem recorrente... de qualquer forma, essa escrita está perfeita!

George Yurievitch Ribeiro disse...

a idéia é essa : )